terça-feira, 9 de outubro de 2012

Carta aberta aos Sócios...



Carta aberta aos Sócios da Sociedade dos Apicultores de Portugal

Amigos Associados:

Sou sócio da SAP há perto de trinta e cinco anos, desde os tempos em que apenas ocupávamos uma pequena salinha, que não tinha mais de nove metros quadrados, num 2º ou 3º andar (já me falha a memória) da Rua de S. Lázaro e onde tínhamos tudo o que podíamos ter.

Lembram-se ?

Vendia-se cera e material apícola (menos colmeias, porque não havia espaço para as ter). Até tínhamos uma biblioteca (as vezes que eu li o “A, B, C e  X, Y, Z da Apicultura” de Root) e um centrifugador para emprestar aos sócios.

As reuniões decorriam num salão do mesmo andar, que nos era graciosamente cedido por uma colectividade. Era um salão enorme com um palco e tudo, onde às quintas-feiras à noite nos juntávamos para ouvir falar os apicultores mais velhos e experientes.

Quem não se lembra do Exº. Sr. António Briosa? E do Exº. Sr. Engº. Rosário Nunes, que foi presidente da SAP e Director do então Centro de Estudos Zoológicos do Ultramar e, a primeira pessoa a identificar em Portugal a Acarapisose ?

O salão ficava literalmente apinhado de sócios sentados e em pé e, muitos que já não cabiam na sala, em pé no corredor, bebendo os ensinamentos dos Mestres que ali pontificavam.

E as deliciosas Feiras do Mel, realizadas na Avenida Guerra Junqueiro, uma das mais nobres zonas da cidade de Lisboa, um verdadeiro emblema da SAP? Foi numa destas feiras que tive o meu primeiro contacto com a Sociedade, tendo desde logo sido proposto para sócio pela mão do Exº. Sr. Fernando Silva Quaresma, um dos Fundadores.

Era, na época, um frequentador assíduo das palestras de quinta-feira. Depois, os afazeres profissionais e a mudança da SAP para a sua actual morada no Largo Dr. Bernardino António Gomes e a minha mudança de residência, levaram a que me afastasse lentamente do são convívio da Sociedade.

Há uns dez ou quinze anos fui voltando esporadicamente. A roda do tempo tinha feito os seus estragos, as coisas estavam diferentes, mas tudo muda e, embora de modo nenhum com a grandeza de outros tempos, a Sociedade ia funcionando.

O tempo passou e a situação foi-se degradando. Erros de gestão e o abandono que se instalou, arrasaram a SAP. Cheguei a pensar que era apenas uma questão de pouco tempo, até encerrar definitivamente. Nos últimos três anos quase lá não fui. Por um lado, pela total ausência de disponibilidade de tempo, por outro, porque frequentemente estava encerrada.

A quantos sócios isto aconteceu? Há quanto tempo não vai à SAP?

Ao mesmo tempo sentia uma grande tristeza quando pensava na SAP, que tantas alegrias me tinha proporcionado e, por outro lado, um grande sentimento de culpa, por nada fazer pela Associação, que me tinha recebido e ensinado tudo o que eu sabia de Apicultura.

Em Novembro do ano passado, andava eu a passear pelo Fórum de Mirandela, quando oiço alguém chamar-me. Para meu espanto, era o Sr. Domingos Serrano que me diz :
“ - Ainda bem que o vejo. Preciso de falar consigo.
 - Então não foi à reunião da semana passada? A SAP vai ter uma nova Direcção. A reunião não ficou concluída e continua na próxima semana. Precisamos que vá lá.”

De facto os ficheiros estavam de tal forma desorganizados, que há anos que não recebia qualquer correio da SAP, como também não recebi daquela vez. Mas a fantástica coincidência do Sr. Serrano me ter encontrado deixou-me desconcertado, uma vez que o estado de degradação que a SAP tinha atingido, não me saía da cabeça e, havia já algum tempo, que achava que devia fazer alguma coisa. Não podia faltar à reunião que continuaria na próxima semana.

Na semana seguinte fui então à reunião. E posso dizer que foi uma das melhores coisas que até hoje fiz na vida. Pude conhecer a nova Direcção. Um grupo com idades entre vinte e os oitenta anos, absolutamente fantástico, coeso, colaborante, trabalhador, motivado, determinado a fazer renascer a Sociedade das suas cinzas. Pessoas maravilhosas.

Começando pelos mais novos, a Exª. Srª. Engª. Carina Brilha, distintíssima Engenheira da Produção Animal de excelência e Apicultora de primeira água, que mal sabia eu na altura, viria a desempenhar, dentro de cerca de onze meses, um papel fulcral na SAP; o Exº Sr. Dr. Sérgio Gouveia, Médico Veterinário competentíssimo e Apicultor enérgico e decidido; o Exº. Sr. Alcides Martins, Apicultor muito experiente e avisado, rigoroso e dedicado como poucos; o Exº Sr. Fernando Pinto, Apicultor muito experiente em apicultura tradicional fixista; o Exº. Sr. Miguel Madureira, Apicultor e especialista em hidromel e, a pessoa que contra todas as adversidades e com pesados sacrifícios pessoais, manteve a Sociedade viva para a poder trazer até esta Direcção. Por último o Presidente da SAP, o Exº. Sr. Domingos Serrano, Apicultor por demais conhecido de todos, com tão larga experiência, que seria inútil qualquer apresentação que eu pudesse dele fazer.

E o resultado do hercúleo trabalho deste fantástico grupo é já bem visível. A SAP, como a mítica ave, ressurge das cinzas, está de novo nas bocas do mundo, desta vez pelas melhores razões. A sua presença em vários eventos, como Sociedade, ou através dos seus elementos é uma constante. Do Congresso da APEZ, à Apiocasião, da Avis Mellífera aos Fóruns Nacionais, a SAP está lá. Em cerca de dez meses, apesar das dificuldades encontradas (até uma inundação que destruiu as suas instalações), efectuou um curso de Apicultura e Criação de Rainhas (com mais de quarenta horas) e prepara agora um Curso de Iniciação. Efectuou um Concurso de Mel. Participou em vários certames, com a finalidade de trazer os produtos dos associados ao mercado e aos consumidores, culminando com a imensa e extraordinariamente bem sucedida Feira do Montijo, onde se reviu e se ultrapassou a SAP de há trinta anos, em toda a sua grandeza, pujança e magnitude.

E é para continuar!

Amigo Associado, ainda quer ficar de fora?

Com a actual Direcção, a Sociedade dos Apicultores de Portugal é imparável.

A Fénix, finalmente renasceu.

António Hermenegildo
        Sócio nº.  1786

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