Carta aberta aos Sócios
da Sociedade dos Apicultores de Portugal
Amigos Associados:
Sou sócio da SAP há perto de trinta e cinco anos, desde os
tempos em que apenas ocupávamos uma pequena salinha, que não tinha mais de nove
metros quadrados, num 2º ou 3º andar (já me falha a memória) da Rua de S.
Lázaro e onde tínhamos tudo o que podíamos ter.
Lembram-se ?
Vendia-se cera e material apícola (menos colmeias, porque não
havia espaço para as ter). Até tínhamos uma biblioteca (as vezes que eu li o
“A, B, C e X, Y, Z da Apicultura” de
Root) e um centrifugador para emprestar aos sócios.
As reuniões decorriam num salão do mesmo andar, que nos era
graciosamente cedido por uma colectividade. Era um salão enorme com um palco e
tudo, onde às quintas-feiras à noite nos juntávamos para ouvir falar os
apicultores mais velhos e experientes.
Quem não se lembra do Exº. Sr. António Briosa? E do Exº. Sr.
Engº. Rosário Nunes, que foi presidente da SAP e Director do então Centro de
Estudos Zoológicos do Ultramar e, a primeira pessoa a identificar em Portugal a
Acarapisose ?
O salão ficava literalmente apinhado de sócios sentados e em
pé e, muitos que já não cabiam na sala, em pé no corredor, bebendo os
ensinamentos dos Mestres que ali pontificavam.
E as deliciosas Feiras do Mel, realizadas na Avenida Guerra
Junqueiro, uma das mais nobres zonas da cidade de Lisboa, um verdadeiro emblema
da SAP? Foi numa destas feiras que tive o meu primeiro contacto com a
Sociedade, tendo desde logo sido proposto para sócio pela mão do Exº. Sr.
Fernando Silva Quaresma, um dos Fundadores.
Era, na época, um
frequentador assíduo das palestras de quinta-feira. Depois, os afazeres
profissionais e a mudança da SAP para a sua actual morada no Largo Dr.
Bernardino António Gomes e a minha mudança de residência, levaram a que me
afastasse lentamente do são convívio da Sociedade.
Há uns dez ou quinze anos fui voltando esporadicamente. A
roda do tempo tinha feito os seus estragos, as coisas estavam diferentes, mas
tudo muda e, embora de modo nenhum com a grandeza de outros tempos, a Sociedade
ia funcionando.
O tempo passou e a situação foi-se degradando. Erros de
gestão e o abandono que se instalou, arrasaram a SAP. Cheguei a pensar que era
apenas uma questão de pouco tempo, até encerrar definitivamente. Nos últimos
três anos quase lá não fui. Por um lado, pela total ausência de disponibilidade
de tempo, por outro, porque frequentemente estava encerrada.
A quantos sócios isto aconteceu? Há quanto tempo não vai à SAP?
Ao mesmo tempo sentia uma grande tristeza quando pensava na
SAP, que tantas alegrias me tinha proporcionado e, por outro lado, um grande
sentimento de culpa, por nada fazer pela Associação, que me tinha recebido e
ensinado tudo o que eu sabia de Apicultura.
Em Novembro do ano passado, andava eu a passear pelo Fórum de
Mirandela, quando oiço alguém chamar-me. Para meu espanto, era o Sr. Domingos
Serrano que me diz :
“ - Ainda bem que o vejo. Preciso de falar consigo.
- Então não foi à
reunião da semana passada? A SAP vai ter uma nova Direcção. A reunião não ficou
concluída e continua na próxima semana. Precisamos que vá lá.”
De facto os ficheiros estavam de tal forma desorganizados,
que há anos que não recebia qualquer correio da SAP, como também não recebi
daquela vez. Mas a fantástica coincidência do Sr. Serrano me ter encontrado
deixou-me desconcertado, uma vez que o estado de degradação que a SAP tinha
atingido, não me saía da cabeça e, havia já algum tempo, que achava que devia
fazer alguma coisa. Não podia faltar à reunião que continuaria na próxima
semana.
Na semana seguinte fui então à reunião. E posso dizer que foi
uma das melhores coisas que até hoje fiz na vida. Pude conhecer a nova
Direcção. Um grupo com idades entre vinte e os oitenta anos, absolutamente
fantástico, coeso, colaborante, trabalhador, motivado, determinado a fazer
renascer a Sociedade das suas cinzas. Pessoas maravilhosas.
Começando pelos mais novos, a Exª. Srª. Engª. Carina Brilha, distintíssima
Engenheira da Produção Animal de excelência e Apicultora de primeira água, que
mal sabia eu na altura, viria a desempenhar, dentro de cerca de onze meses, um
papel fulcral na SAP; o Exº Sr. Dr. Sérgio Gouveia, Médico Veterinário
competentíssimo e Apicultor enérgico e decidido; o Exº. Sr. Alcides Martins,
Apicultor muito experiente e avisado, rigoroso e dedicado como poucos; o Exº
Sr. Fernando Pinto, Apicultor muito experiente em apicultura tradicional
fixista; o Exº. Sr. Miguel Madureira, Apicultor e especialista em hidromel e, a
pessoa que contra todas as adversidades e com pesados sacrifícios pessoais,
manteve a Sociedade viva para a poder trazer até esta Direcção. Por último o
Presidente da SAP, o Exº. Sr. Domingos Serrano, Apicultor por demais conhecido
de todos, com tão larga experiência, que seria inútil qualquer apresentação que
eu pudesse dele fazer.
E o resultado do hercúleo trabalho deste fantástico grupo é
já bem visível. A SAP, como a mítica ave, ressurge das cinzas, está de novo nas
bocas do mundo, desta vez pelas melhores razões. A sua presença em vários
eventos, como Sociedade, ou através dos seus elementos é uma constante. Do
Congresso da APEZ, à Apiocasião, da Avis Mellífera aos Fóruns Nacionais, a SAP
está lá. Em cerca de dez meses, apesar das dificuldades encontradas (até uma inundação
que destruiu as suas instalações), efectuou um curso de Apicultura e Criação de
Rainhas (com mais de quarenta horas) e prepara agora um Curso de Iniciação.
Efectuou um Concurso de Mel. Participou em vários certames, com a finalidade de
trazer os produtos dos associados ao mercado e aos consumidores, culminando com
a imensa e extraordinariamente bem sucedida Feira do Montijo, onde se reviu e
se ultrapassou a SAP de há trinta anos, em toda a sua grandeza, pujança e
magnitude.
E é para continuar!
Amigo Associado, ainda quer ficar de fora?
Com a actual Direcção, a Sociedade dos Apicultores de
Portugal é imparável.
A Fénix, finalmente
renasceu.
António Hermenegildo
Sócio nº. 1786
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